quarta-feira, 20 de maio de 2015

PR5 (MTG)-Rota do Maciço Central

DIÁRIO - XXX
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Data: 2015 (maio)
ID do percurso: PR5 (MTG)-Rota do Maciço Central
Início/Fim: Covão d'Ametade (Vale Glaciar do Zêzere/Manteigas/Serra da Estrela)
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Trajeto: Covão d’Ametade > Covão Cimeiro > Salgadeiras > Lagoa do Peixão > Vale da Candeeira > Cântaro Gordo > Covão d’Ametade
Distância/Tipo: 12,28Km / circular
Tempo: 8 horas
Grau de dificuldade: Difícil
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Descrição: Há muito que desejávamos fazer este trilho, mas nem sempre o tempo livre ou as férias coincidiam com as condições meteorológicas ideais para nos aventurarmos num percurso cujo grau de dificuldade se previa elevado e as expectativas não saíram goradas.

Começamos a marcha no belo Covão d’Ametade no sopé do maciço do Cântaro Magro. É neste local paradisíaco que o Zêzere toma forma e depois se faz rio.

Iniciamos a subida junto ao grande bloco de granito que ampara o muro que retém, numa pequena lagoa, as primeiras águas do Zêzere que correm desde a sua nascente algures junto ao Cântaro Magro.

A dado momento paramos para apreciar as vistas sobre os Vidoeiros (Bétulas) do Covão, que parecem agora tão pequenos e sobre a Pedra do Equilíbrio (instável) que parece desafiar as leis da gravidade.

Sempre a trepar, chegamos ao Covão Cimeiro e eis que se abre ante nós o mais belo dos anfiteatros. Aqui, deparamos com um dos mais lindos espetáculos da natureza.

A dimensão da beleza paisagística emociona e faz-nos sentir ainda mais pequenos ante a grandiosidade do cenário majestoso que decorre diante dos nossos sentidos.

Encaixada na base do Cântaro Magro e do Covão Cimeiro as turfeiras e os pequenos charcos criam um ambiente ideal para as centenas de Batráquios cujo coaxar abafa as nossas vozes.

Retomamos o caminho para norte (à nossa direita) subindo uma “parede” que nos leva ao Cântaro Gordo. Daqui temos uma paisagem fabulosa, em baixo à nossa frente a Lagoa dos Cântaros, no mesmo sentido e mais à frente a Fraga e a Lagoa da Bezerra, mais para a direita ao fundo o Covão da Ametade, cada vez mais pequenino, mais ao longe a Pedra do Judeu e em direção às Penhas da Saúde, o Lago do Viriato.

É tempo de continuar, ainda só percorremos 1,7 Km e já levamos 1 hora de caminhada e ainda falta trepar mais 150 m de elevada inclinação.

Neste troço do percurso encontramos a passagem que se revelou das mais perigosas de todo o trajeto, a transposição de grandes blocos de granito dispostos caoticamente, intervalados com fendas fundas, pelo que imagino a aventura que será passar aqui com tempo de chuva ou com gelo.

Vencido o obstáculo, continuamos até galgar a montanha e avistamos bem lá em baixo e ainda longe a Lagoa do Peixão (ou Paixão), onde iremos passar mais logo. Por agora vamos descendo em direção às Salgadeiras e às Chancas (pequenas lagoas de origem Glaciar).

A partir das Salgadeiras e até ao poste informativo do trilho, já nas proximidades do Fragão do Poio dos Cães e da estrada de onde se avistam os antigos radares na Torre,  a sinalética habitual (amarelo-vermelho) é substituída por um único traço vermelho (pintura mais recente) que é parte da rota do Maciço Central que vai da Torre até à Nave da Mestra.

Seguimos agora esta sinalética (um traço vermelho) e só quando nos desviamos para a Lagoa do Peixão, é que continuamos o rumo pelas marcas habituais (traços amarelo e vermelho).

Agora começa a nossa descida dos 1.866m de altitude até ao próximo destino aos 1.675m de altitude, a lagoa do Peixão, mas antes temos a passagem entre rochas que se faz com algum cuidado.

Abrimos caminho entre as urzes e as giestas e logo surge o Peixão, talvez das mais lindas lagoas naturais da serra.

Este é o momento de parar para admirar a natureza e de retemperar forças. Estamos no Paraíso? Perguntei para a minha companheira de vida e de caminhadas.

Chegou a hora de partir, embora apeteça ficar e esperar que a Estrela seja mais uma das estrelas a seguir ao crepúsculo (que pena não estarmos em autonomia).

Contornamos a Lagoa e preparamo-nos para a descida com declive acentuado em direção ao Vale Glaciário da Candeeira, cujo nome tem origem na quantidade de fogueiras que se mantinham incandescentes durante vários dias, quando no passado se ganhava a vida, além da pastorícia, a fazer carvão pela queima da raiz da Urze, arbusto dominante em quase toda a serra e que nesta altura do ano (primavera) pintam a paisagem de rosa (sempre que vimos a Manteigas é da praxe levarmos, além do queijo, um pote de mel de Urze).

Nas Candeeiras perdemos por várias vezes a ligação das marcas do trilho, ora porque a vegetação é muito alta ou porque a ribeira nos força a mudar o percurso, mas aqui não há o perigo de nos perdermos. Estamos num vale e é só seguir em frente.

Pouco depois de passarmos a Ponte Bolota, começamos a subida pelas Candeeirinhas em direção ao Cântaro Gordo até que começamos a ver o Vale Glaciar do Zêzere e do outro lado os Poios Brancos.

A partir daqui o caminho que nos leva de regresso ao Covão da Ametade é fácil e logo estamos a concluir esta epopeia. Cansados, mas mais ricos em experiência e, pela tamanha grandeza natural que presenciamos, também nos sentimos mais humildes.

Momento agora para abastecer os cantis, no regresso a Manteigas, com paragem obrigatória na fonte Paulo Luís Martins, logo ali a seguir ao Covão na estrada do Vale Glaciar.

Percurso fantástico.
                                              

Estando reunidas as condições meteorológicas ideais e desde que se esteja habituado a fazer caminhadas com regularidade, esta Rota do Maciço Central não oferece grande dificuldade, mas requer atenção na sua preparação (água, reforço energético, equipamento adequado à época, tendo sempre em conta que, em montanha, o tempo pode trocar-nos as voltas).

Deve-se evitar fazer sozinho este percurso, em particular, devendo escolher-se os dias com previsão de tempo seco, com boa visibilidade e as estações do ano com mais horas de luz (demora entre 8 a 9 horas a fazer os poucos mais de 12 km).

O uso de GPS é obrigatório, quer pelos motivos apontados mas, também, porque as marcas do trilho estão parcialmente sumidas ou estão ocultas pela vegetação, principalmente no Vale das Candeeiras onde é fácil perdermos a ligação entre as mariolas.

Recomenda-se começar o trilho no Covão d'Ametade, no sentido dos ponteiros do relógio. 
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